Ode



We are the music-makers,
And we are the dreamers of dreams,
Wandering by lone sea-breakers
And sitting by desolate streams;
World losers and world forsakers,
On whom the pale moon gleams:
Yet we are the movers and shakers
Of the world for ever, it seems.
With wonderful deathless ditties
We build up the world’s great cities.
And out of a fabulous story
We fashion an empire’s glory:
One man with a dream, at pleasure,
Shall go forth and conquer a crown;
And three with a new song’s measure
Can trample an empire down.
We, in the ages lying
In the buried past of the earth,
Built Nineveh with our sighing,
And Babel itself with our mirth;
And o’erthrew them with prophesying
To the old of the new world’s worth;
For each age is a dream that is dying,
Or one that is coming to birth.





'Dreamers of Dreams' from LIGHT COLOUR SOUND on Vimeo.

O eremita viajante

foto respigada aqui


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Na era Jôkio, durante a oitava lua, deixei a minha modesta casa junto ao rio. O vento era muito frio.

O vento rasga-me o corpo
até ao coração -
que tempo este!

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Deixando as sandálias num lugar e o saco num outro, mas ainda viajando quando o ano termina.

quando o ano está a acabar
agarro no meu chapéu
e calço as minhas sandálias de palha

Matsuo Bashô, O eremita viajante [haikus - obra completa], organização e versão portuguesa Joaquim M. Palma, Assírio & Alvim, p. 95 e 105



Amizade


Um Amigo, é saber onde pousar a mão. Ter a medida certa de até onde podemos ir, naquilo que dissermos. Fidelidade de não esquecer a voz. Perdoar com alegria. Sangue da memória, silêncio partilhado, entendimento cúmplice, confidência de Outono, adivinhação pressentida, comunhão laica. Percebermos quase tudo. É pensar que seria melhor que a morte nos pudesse atender primeiro. 
 
Alberto Soares, in Arpose
 


O princípio

Vejo uma objecção a qualquer esforço para melhorar a condição humana: é que os homens são talvez indigno dele. Mas repilo-a sem dificuldades: enquanto o sonho de Calígula se mantiver irrealizável e todo o género humano se não reduzir a uma única cabeça oferecida ao cutelo, teremos que o tolerar, conter e utilizar para os nossos fins; sem dúvida que o nosso interesse será servi-lo. O meu processo baseava-se numa série de observações feitas desde há muito em mim próprio: toda a explicação lúcida me convenceu sempre, toda a delicadeza me conquistou, toda a felicidade me tornou moderado. E nunca prestei grande atenção às pessoas bem intencionadas que dizem que a felicidade excita, que a liberdade enfraquece e que a humanidade corrompe aqueles sobre quem é exercida. Pode ser: mas, no estado habitual do mundo, é como recusar a alimentação necessária a um homem emagrecido com receio de que alguns anos depois ele possa sofrer de superabundância. Quando se tiver diminuido o mais possível as servidões inúteis, evitado as desgraças desnecessárias, continuará sempre, para manter vivas as virtudes heróicas do homem, a longa série de verdadeiros males, a morte, a velhice, as doenças incuráveis, o amor não correspondido, a amizade recusada ou traída, a mediocridade de uma vida menos vasta que os nossos projectos e mais enevoada que os nossos sonhos: todas as infelicidades causadas pela divina natureza das coisas.

Marguerite Yourcenar, Memórias de Adriano, trad. de Maria Lamas, Editora Ulisseia, p.98-99 







Nota breve

Mergulho no desespero de um escritor que não escreve.

Marguerite Yourcenar, Apontamentos sobre as Memórias de Adriano,
Ulisseia, 1983, p.252



6 motivos para 1 cenário

O melro negro que, do mármore branco, vai para a chaminé.
Uma leitosa neblina sobre o rio.
A gaivota sobrevoando, alta.
Um fiozinho de música que vai pela manhã, como uma voz sem sílabas.
Alguém que se debruça na janela, para ver o rio.
O melro que levanta, em direcção ao dia.


Alberto Soares, aqui

O futuro

Aos domingos, iremos ao jardim.
Entediados, em grupos familiares,
Aos pares,
Dando-nos ares
De pessoas invulgares,
Aos domingos iremos ao jardim.
Diremos, nos encontros casuais
Com outros clãs iguais,
Banalidades rituais,
Fundamentais.
Autómatos afins,
Misto de serafins
Sociais
E de standartizados mandarins,
Teremos preconceitos e pruridos,
Produtos recebidos
Na herança
De certos caracteres adquiridos.
Falaremos do tempo,
Do que foi, do que já houve...
E sendo já então
Por tradição
E formação
Antiburgueses
- Solidamente antiburgueses -,
Inquietos falaremos
Da tormenta que passa
E seus desvários

Seremos aos domingos, no jardim,
Reaccionários.

Reinaldo Ferreira, Nunca mais é sábado - Antologia de Poesia Moçambicana
org. e prefácio de Nelson Saúte, ed. Dom Quixote, p. 120



Many names

Quando considero a minha vida fico apavorado ao achá-la informe. A existência dos heróis, aquela que nos contam, é simples: vai direita ao fim como uma seta. E a maioria dos homens gosta de resumir a sua vida num preceito, por vezes uma jactância ou numa lamentação, quase sempre numa recriminação; a sua memória fabrica-lhes complacentemente uma existência explicável e clara. A minha vida tem contornos menos firmes. Como sucede frequentemente, é talvez o que não fui que a define com maior justeza: bom soldado, mas não um grande homem de guerra; amador de arte, mas não aquele artista que Nero julgou ser, ao morrer; capaz de crimes, mas não carregado de crimes.
Marguerite Yourcenar, Memórias de Adriano, trad. de Maria Lamas, Ulisseia, p.25



Evolução da alma

Tudo flui

Para as almas, a morte é transformarem-se em água; 
para a água, a morte é transformar-se em terra; 
pois a água tem origem na terra, e a alma na água.

Heraclito,
  in HÉLADE Antologia da Cultura Grega
org. e trad. Maria Helena da Rocha Pereira, Guimarães Editores, 10.ª ed. p.152 e 153



Paciência

De mastigar os ossos nas sílabas espessas
este cão amargo rói os dias
sob o peso da chuva com a morte
por entre os lábios o marfim das pedras
(...)

Alberto Soares, Escrito Para a Noite